domingo, 8 de julho de 2012

Sobre título e motivos

Precisava de um espaço onde pudesse escrever objetivamente, onde o teor do material poderia ser qualificado como um amplo conjunto de questionamentos. Disso, de repente surgiu a conexão, perguntei-me:  que existirá de mais expressivo como questionamento do que aquele que Hamlet faz ao proferir a célebre frase “ser ou não ser”, dirigida à caveira agarrada uma das suas mãos? Pronto, estava batizado meu novo blog Falling like Hamlet;   falling em questionamentos mal comportados sobre a vida, a verdade e o futuro com a pretenção de expressar a tônica ou o humor das proposições das diversas realidades correntes e aspirações humanas permanentes.
Voltando a Hamlet, há um fato muito curioso: a celebre imagem dele segurando a caveira e ensaiando seu famoso monologo "ser ou não ser" é uma assertiva do imaginário popular ou talvez  adaptações do teatro moderno. Nos Fólios de Shakespeare, na verdade sao duas cenas diferentes, o monologo se dá a noite quando Hamlet está sozinho em seu quarto e em outro momento no cemitério Hamlet com a caveira na mao na verdade diz:
"Pobre Yorick! Conheci-o, Horácio; um sujeito de chistes inesgotáveis e de uma fantasia soberba. Carregou-me muitas vezes às costas. E agora, como me atemoriza a imaginação! Sinto engulhos. Era aqui que se encontrávamos os lábios que eu beijei não sei quantas vezes. Onde estão agora os chistes, as cabriolas, as canções, os rasgos de alegria que faziam explodir a mesa em gargalhadas? Não sobrou uma ao menos, parar rir da tua própria careta? Tudo descarnado! Vai agora aos aposentos da senhora e dize-lhe que embora se retoque com uma camada de um dedo de espessura, algum dia ficará deste jeito. Faze-a rir com semelhante pilhéria."


  O que mais me toca é a simbologia da caveira, que pode comportar três aspectos: O primeiro consistiria nela em si, como aquilo que resta quando todo o mais se acaba em nossa vida, não importa se fomos ricos ou pobres, negros ou brancos, comunistas ou capitalistas,homem ou mulher,etc nosso fim é o mesmo ; o segundo refletiria o que pulsa dentro dela enquanto há vida, nesse aspecto ainda somos iguais possuímos os mesmos orgãos e as mesmas constituições básicas: núcleo,membrana, celula... todos com a mesma função biológica, mas cada um de nós tem seu próprio relógio biológico sua própria cadeia de DNA; e o último compreenderia o que entra por ela para o resto do complexo somático através dos sentidos: o que cheiramos, olhamos, comemos, ouvimos, sentimos ,usamos e como através disso modificamos-nos,esse ultimo ponto é o dos nossos apetites. Seriam a Caveira Interior, o Interior da Caveira e o Exterior da Caveira. Por isso o título do blog cai como uma luva, quando se nota que esses três aspectos da caveira correspondem respectivamente aos três deuses decaídos sobre os quais mais gosto de dissertar: Morte, Ciência e Mercado.
Hamlet é a figura mais dramática e questionadora de Shakespeare, analista, não consegue tomar uma decisão sem overthinking e ainda parte do pressuposto fúnebre de que a morte é a solução para todos os problemas. Eu, como Ophelia, acabei caindo por Hamlet e caindo como Hamlet na ambiguidade dos deuses decaídos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário